segunda-feira, 1 de julho de 2013

Crónicas de amor em África - 18 anos depois

Aterrar em Luanda (foto da net)
Eu nasci aqui. Curiosamente, os caminhos da vida trazem-me sempre de volta aqui.

Passei toda a minha infância à espera que o meu pai voltasse daqui para passar férias connosco. Uma dúzia de anos depois de ele ter voltado de vez, vi o pai do meu filho a vir para aqui e a ser Picolé quem espera que o pai volte de férias. Quando decidi voltar a partilhar a minha vida com um homem, vi-o a ele a embarcar para aqui. Aqui... A terra que não é de nenhum deles mas que é a minha. Seria o lugar onde viveria não tivesse eu um filho pequeno e não desejasse eu que ele viva com mais qualidade do que a que esta terra pode proporcionar a uma criança pequena.

Eu não vivo aqui em adulta pelos mesmos motivos que não vivi aqui em criança. Mudou apenas o sujeito dos motivos. Ainda assim, volta e meia, dou por mim, nesta terra. Dou por mim, sentada, a escrever, enquanto à minha volta se ouve o português cantado e a música sempre a tocar numa qualquer telefonia. Dou por mim, branca e alva, com as empregadas a dizerem-me que posso ir para aquela salinha mais sossegada e eu a chocá-las dizendo que prefiro ir lá para fora onde elas cirandam e onde uma delas lava a roupa. Olham-me com estranheza. Mas prefiro. Não é nenhuma tomada de posição. É apenas uma simples preferência. Sinto-me melhor assim, a sentir a vida real à minha volta. A perceber que esta roupa que aqui está estendida no varal deve ser de uma delas. E que tem uma menina. Pequenina. Que usa vestidos minúsculos cor-de-rosa (a não ser que algum dos gaijos desta casa tenha uns fetiches beeeeeeem estranhos). Gosto de saber estas pequenas coisas.

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