sexta-feira, 23 de março de 2012

E ainda dos amores impossíveis

As pessoas dizem-me que as relações à distância não funcionam. Eu respondo-lhes que não temos uma relação à distância, temos uma relação em que estamos temporariamente apartados. As pessoas dizem-me, então, que isso é o que eu digo para me convencer. Que tudo começa assim. Que o temporário se torna definitivo e que se sente cada vez menos a falta e que começa a haver carência e surgem outras pessoas e que aquilo que, hoje, parece certo, amanhã se evapora. Eu digo às pessoas que nós somos diferentes. As pessoas dizem-me que todos acham que é uma coisa diferente. Dizem-me que todos encolhem os ombros como eu, convencida que estou que o resto do mundo está errado.

Eu não digo às pessoas que não quero saber do que pensam. Eu não lhes digo que mesmo que todos estejam certos e isto, inevitavelmente, acabe amanhã, eu estou-me cagando. Eu não lhes digo que vivemos um dia de cada vez porque as pessoas querem as certezas do para sempre e, essas, eu não as tenho. Eu não lhes digo que tu me ensinas todos os dias a dar pequenos passos juntos, de mãos dadas, quebrando a minha rebeldia e renitência mas deixando-me a liberdade para pensar que ainda sou muito rebelde. Eu não lhes digo que, ontem, enquanto era abalroada pelo camião, só pensava que me tinhas dito, há muito tempo, que um sinal de que amamos alguém é quando essa pessoa é a primeira para quem queremos ligar quando temos um acidente de carro. Não foste a primeira pessoa para quem liguei, aliás, nem liguei mas só porque estavas demasiado longe para eu te preocupar com a chapa do meu carro. 

Eu não digo às pessoas nem te digo a ti que mesmo que elas estejam certas, eu não me arrependo nem de um minuto nem considero uma perda de tempo. E, decididamente, não vos digo que se tudo acabasse amanhã, eu iria deixar-te ir mas iria querer, algures no meu futuro, encontrar alguém exactamente como tu...


3 comentários:

Sérgio disse...

Ice, Obrigado pelo texto. É exactamente esse o meu sentimento. Mas porque é que não pode dar certo? No meu caso só pode dar certo, nem há espaço para dúvidas.
(Eu sou o pai/mãe solteiro e a Gaija é que se fez à vida)

Sérgio disse...

Ice, Obrigado pelo texto. É exactamente esse o meu sentimento. Mas porque é que não pode dar certo? No meu caso só pode dar certo, nem há espaço para dúvidas.
(Eu sou o pai/mãe solteiro e a Gaija é que se fez à vida)

Iceberg disse...

Sérgio, não tenho dúvidas nenhumas de que, tanto no teu caso como no meu, vai dar certo. Só pode dar certo.

Mas há sempre Velhos do Restelo que adoram destilar a sua amargura e todos os cais.