sábado, 17 de março de 2012

3 semanas depois*

A minha irmã emigrou há uns anos. Não de uma forma muito ortodoxa.
A Avó Lulu nunca foi mulher de se deixar prender a um sitio. Se não houvesse quem a levasse, ela arranjava forma de ir. Forma essa que, normalmente, se traduzia no expresso da carreira.

Ora a forma pouco ortodoxa como a minha irmã foi parar onde hoje está, fez com que a Avó Lulu tivesse mana atravessada por uns tempos. Mas todos nós sabemos que a ausência é um grande liquidificante e tudo o que estava atravessado escorreu rapidamente e foi substituído pelas saudades da caçula. Um belo dia, cheguei ao Alentejo para passar o fim-de-semana e ela estava com aquele ar de menina travessa que fazia sempre prever asneira da grossa.

Avó: Quantos kms são daqui a Lisboa?
Ice: Uns 300kms.
Avó: Hum...
Ice: Sim?
Avó: E de Lisboa até lá onde a tua irmã está na Inglaterra?
Ice: Sei lá. Devem ser uns 2.500.
Avó: Só?
Ice: Sim, vó. A miúda não foi para o fim do mundo.
(silêncio)
Avó (sorriso matreiro nos lábios): Mas isso é como ir a Lisboa umas 10 vezes. Não é muito longe!
Ice: Achas???
Avó (hope all over her beautiful face!): Há expressos?

E eu passei a semana toda a lembrar-me desta conversa e a pensar que há frases dos avós que, na altura, nos parecem loucas mas que, um dia, finalmente, fazem todo o sentido.


*e uns dias.

3 comentários:

Unknown disse...

E o mundo está cada vez mais pequeno, Ice, áté "o fim do mundo" é quase aqui ao lado...

Iceberg disse...

Que bonita frase feita, Menino...

Unknown disse...

Estamos no século 21, a maior parte das frases já foi dita antes por alguém...

E não é só uma frase feita, há um século levavas duas semanas para fazer 2500 km, hoje levas uma manhã!