quarta-feira, 6 de abril de 2011

"To sleep, perchance to dream"*

Devo ter sonhado com o fim. Devo ter sonhado que tudo tinha, efectivamente, terminado. Quando acordei, tinha a sensação de que nada esperava nem nada desejava e que tudo estava, de facto, acabado. Não foi a sensação de desesperança. Foi mesmo a calma da ausência das dúvidas. E naquele momento, entre o sono e o despertar, não senti o aperto no peito, a vontade de gritar, espernear e a dúvida a martelar na minha cabeça. Senti apenas a tristeza tranquila do fim. E depois, como naquelas cenas dos filmes quando os personagens quase se afogam e depois emergem, aspirando o ar com toda a capacidade dos seus pulmões, também a consciência plena me reencheu - não de oxigénio - mas de dúvidas, ansiedades e, sobretudo, de desejos.

*William Shakespeare - Hamlet

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