sábado, 12 de março de 2011

E agora uma estreia mundial

Vou falar daquela coisa da geração à rasca.

É que eu já fui apelidada como sendo da geração rasca. Sim, eu estava lá quando o gaijo mostrou o rabo à Ministra da Educação. Demasiado perto para o meu gosto, até. 
Eu sou daquelas que fez 3 PGA's para poder continuar a estudar. 
Eu fui da geração rasca e agora consta que pertenço à geração à rasca.

Considerei até participar na manifestação. Porque não? Eu tenho um smartphone. Parece que é requisito para fazer parte da geração à rasca ter um smarphone ou android ou I-phone ou blackberry com acesso à net. É que, pelo que tenho visto, toda a gente que esteve a manifestar-se hoje continuava a fazer updates no facebook, twitter e afins tudo através mobile phone. 

Ora, eu tenho um smartphone com net porque tenho um daqueles pacotes... Porra, tenho um Moche, pronto. Mas não tenho TV Cabo. Não tenho porque o plafond mensal não dá para tudo. Tenho net porque aproveitei uma promoção em que me davam o portátil se aderisse a uma net móvel durante um certo período de tempo. E como não tinha mesmo dinheiro para comprar um portátil novo depois de me roubarem o anterior, decidi aproveitar.

Eu também não janto fora todos os dias. E uso produtos de marca branca. Mas janto fora de vez em quando. E compro roupa e sapatos. E sei coser e remendar e cozinhar. Tenho um rendimento fixo por mês e se não chegar para tudo, não tenho a quem pedir para me ajudar. Tenho um filho pequeno que insiste em crescer todos os dias e isso implica roupas, sapatos e afins. Estudo (maluca esbanjadora) e pago jardim infantil e como sou mãe solteira pago mais que as famílias e como somos só nós dois o estado acha que não preciso de abono de família que o que ganho chega bem para os dois. E acaba por chegar. Aprendi a fazer render o peixe do dinheiro aos 20 e poucos anos quando fui viver sozinha.

Por isso me dá vontade de colocar um sorriso condescendente nos lábios quando vejo aqueles meninos na Av. da Liberdade munidos de I-phones, com a roupa passadinha pelas mamãs, com os seus net books nos seus quartos em casa dos seus pais, dizerem que estão à rasca. É que eles (ainda) não estão à rasca. E eu espero sinceramente que nunca fiquem. Porque se estivessem à rasca saberiam o que era sair das aulas à 1, fazer 6 horas a servir às mesas numa pizzaria ou dar aulas à noite numa zona carenciada de Lisboa ou servir copos num bar até às 4 da manhã quando às 8 têm que estar nas aulas outra vez. Isto sem questionar se ganham muito ou pouco mas sabendo que ganham o suficiente para pagar as contas e os livros e os copos que bebem quando finalmente arranjam tempo para estar com os amigos.

O Estado anda a lixar-nos, que anda. Isto começa a assemelhar-se a um país corrupto de 3º mundo, que começa. Mas que nós também nos desabituámos, há muito, de levar uma vida comedida, ai isso desabituámos. E, já que tanta gente só vai à manifestação para lutar pelos interesses dos seus filhos, talvez seja hora de começarmos por educá-los. Ensiná-los que estamos em tempos de vacas magras e que aquilo que lhes seria dado há 10 anos, não é, definitivamente, aquilo que podemos dar agora. Mas, se calhar, a medida certa é a de hoje e não a de há 10 anos.

4 comentários:

Teresa disse...

É impressão minha ou estás a falar de política?

(e queres mesmo mesmo falar de marcas brancas??!!...)

Iceberg disse...

Não é bem politica. É assim uma espécie de...

(Gostava tanto de falar de marcas brancas... Óhhh se gostava...)

Nuno V. P.de Melo Ferreira disse...

Hoje fui trabalhar ( sim, há quem trabalhe aos sábados ) e ao beber o meu habitual café num cantinho à beira Rossio plantado, viam-se os à rasca sentadinhos, esgotando o stock de cervejolas.. manif? Para quê? A malta quer é copos.

Iceberg disse...

Numenor, mas aí é que está. Eu para fazer festas, fico aqui no quentinho! O que eu vi foi vários grupos de amigos num botellon... Vidas...