quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A minha avó e os estupefacientes - 1

Tempos houve em que a família morava longe. Aos fins-de-semana lá me punha eu a caminho no meu Panda 750, vermelho e lindo. Houve um dia que lá cheguei e notei que a senhora minha avó não estava muito bem. Rezingona, distante, preocupada. Cada vez que lhe perguntava o que se passava, recebia como resposta um 'nada' que não me convencia.

No Sábado, de manhã, com toda a gente fora de casa, 'ataquei-a' na cozinha. Informei-a que não a ia deixar em paz até ela me dizer o que se passava. Foi então que ela, de queixinho a tremer e lagrimita no canto do olho, me disse uma frase que muitos anos que viva nunca vou esquecer: "Ai filha, a tua irmã anda metida na droga!"

Arre, porra, pá. Mas a xavala deixou que a avó a apanhasse a fumar ganzas? Pensei eu, n'é? Mas da minha boquinha só saiu um: "Óh vó que disparate!"

"A sério. Anda mesmo. E é muito. Ela tinha um saco de droga!"

Óh diabo, pensei eu. Querem lá ver que o miúdo da tele-ganza com quem ela se dá, deixou o stock lá em casa? Já sei! Foi outra vez aquele convento que tinha a plantação de cannabis...

"Um saco, vó? Que parvoíce. Onde é que viste isso?"

"Estava em Lisboa. No roupeiro dela..." E foi na frase a seguir que a avó frágil e deprimida que eu não conhecia desapareceu e surgiu aquela que reconheci como minha: "Mas se andava na droga, agora já não anda! Eu tirei-lha toda e trouxe-a comigo!!!!"

Imagens mentais de Ice perante a revelação:
- Saco do Continente cheio de cannabis;
- Tijolo de haxe igual ao do William Hurt nos 'Amigos de Alex';
- Avó no expresso carregando qualquer uma das hipóteses acima;
- Irmã cortada às postas porque se aquilo era mesmo um saco, só podia ser de um dealer e todos nós sabemos que eles não são meiguinhos quando desaparecem sacos de droga.

Palavras emitidas:
"O QUÊ???" Pausa para hiperventilar: "Mostra-me. Já."

Ela abespinha-se (somos muito abespinhadeiros nesta familia), vira-me costas e limita-se a atirar para trás das costas um "anda".
Segui-a até ao quarto dela. Abriu o roupeiro donde começaram a sair todo uma panóplia de coisas de avó: rendas, crochet, tecidos, recordações... E eu a pensar que do meio daquilo tudo estava para sair um saco de droga!

Lá do fundo, ela tira um saco de supermercado. Amarradinho. Pega-lhe com muito jeitinho. E eu à espera com o coração aos pulos. Abre os nós do dito saco e mostra-me o seu conteúdo com um ar triunfal: "Vês? Um saco de droga, mas eu tirei-lho!"

Soltei a respiração, sentei-me na cama. "Avó, isso é tabaco de enrolar, porra!" "Tabaco de enrolar? O que é isso?" Ice dá explicação didáctica sobre o conteúdo do pacote de Amsterdan (ou equivalente) que ela empunhava triunfalmente. Conclusão brilhante: "Ahhh então é teu! A tua irmã não fuma!"

Dois minutos antes era uma toxicodependente, mas cigarros? Oh pá... Isso é que não!!! Isso é para ti que és uma depravada! 
Como é que a outra passou 10 anos sem ser apanhada a fumar é que eu gostava de saber. Eu fui logo na 1ª semana. 

1 comentário:

Rita Camões disse...

ahahhahahahhaha as iludências aparudem toda a gente sabe.