quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Se nem eu consigo entender...

Picolé acabou de me aparecer, vindo da ala oeste do glaciar. Vinha incrédulo porque no filme que estava a ver, estava um senhor que andava a tirar comida do caixote do lixo. "Óh mãe, aquilo é muito esquisito..." E lá voltou ele para dentro. Fui verificar que raio estava ele a ver na tv. Era um dos dvd's dele. Acho que um dos Alvins. Voltei para aqui e dei comigo cheia de interrogações. Como lhe vou eu explicar tanta coisa? Como lhe vou eu explicar que há pessoas que, sim senhora, vivem nas ruas e tiram a sua comida dos caixotes do lixo? Como se explica isso a uma criança habituada a ver a sua comida a ser servida à mesa, com pratos, talheres, guardanapos? Que come sopa, prato, fruta? Como se explica que, inclusivé, algumas dessas pessoas são crianças como ele? Que não sabem o que são brinquedos, nem desenhos animados, nem calendários do advento?
 
Como lhe explico eu que esses meninos adorariam poder reclamar por terem que tomar banho todos os dias? Como lhe digo que eles não têm, muito provavelmente, uma mamã para lhes aconchegar o cobertor e lhes dar um beijinho de boa noite e lhe ler histórias? Bolas, como lhe digo que eles nem cobertor têm? Como lhe posso dizer que nem sempre as mães dão a vida pelos filhos? Como lhe explico que muitas mães abandonam os filhos? Como lhe digo que os velhinhos que ele acha fofinhos são o elo mais fraco na cadeia de injustiças?
 
Como lhe explico eu tanta coisa que nem eu entendo?
 
Eu que lhe consigo explicar de forma pacifica que não pode ter tudo, não lhe consigo dizer que há quem não tenha nada. Porque eu também não consigo entender um mundo onde haja pessoas que não têm nada.

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